quarta-feira, 29 de junho de 2011

E esta, hein?

Não percebo o entusiasmo à volta da ideia do cheque ensino. Quem põe os filhos num colégio, não procura apenas a excelência do ensino, o rigor e a exigência. Procura, sobretudo, a segurança da segregação social. É a segregação social que dá garantias de sucesso. Quem opta por certos e determinados colégios fica sossegado por saber que deixa os filhos numa espécie de condomínio privado, onde se ensina a caridade, se cultiva comedidamente a piedade, enobrece sempre o carácter, mas longe de pretos, ciganos, brancos que são como pretos, demais proscritos. É por essa razão, sobretudo por essa, que sujeitam os filhos a avaliações psicológicas, que se sujeitam eles próprios a entrevistas, onde explicam o que fazem e onde moram. Esmiúçam, ansiosos, detalhes e valores familiares, para se enquadrarem no perfil pretendido. O cheque ensino, em abstracto, elimina constrangimentos financeiros, permitindo que famílias mais pobres possam optar por estabelecimentos de ensino privados, mas não apaga o resto. Quem é da Brandoa, da Buraca, de Unhos, do Catujal, será sempre desses lugares. Os pais que escolhem o ensino privado, se, de repente, vissem a prole acompanhada pela prole das suas empregadas, procurariam rapidamente outro colégio onde a selecção se continuasse a fazer. Não condeno as preocupações dos pais que assim agissem. Percebo-os perfeitamente. Se a escola dos meus filhos fosse, assim de repente, por imposição do governo, inundada por camafeus pequenos, tratando-se por você, armados ao pingarelho, também eu correria a tirá-los de lá. Gosto pouco de misturas.

26 comentários:

S* disse...

Uau, desta vez até fiquei de boca aberta.

Sofia disse...

Oh Meu Deus! "... onde se ensina a caridade, se cultiva comedidamente a piedade, enobrece sempre o carácter, mas longe de pretos, ciganos, brancos que são como pretos, demais proscritos."
Que nojo!

I. disse...

Amei este post, já o tinha lido quando foi publicado. É que é tal e qual.

Anónimo disse...

Fantástico, e a realidade é esta!

Anónimo disse...

brancos que sao como pretos?
camafeus? onde está o bom senso?

Inês disse...

A pessoa que escreveu isto vive num mundo à parte.

Mariana disse...

Boa. É por essas e por outras que os meus filhos andam na escola pública. Assim, não precisam de aprender caridades e piedades e hipocrisias afins. Quando um dia derem um bom par de estalos /coisa que, como se sabe, se aprendem bem com misturas) a criaturinhas piedosas, eu vou lá estar a aplaudir.

pipi das meias altas disse...

A Pipi está a ver que a interpretação de textos anda em crise.

Espiral disse...

É uma das minhas bloggers favoritas =)

Escreve a um nível que muitos escritores almejariam chegar.

marta, a menina do blog disse...

"Camafeu José Maria Barnabé de Sá e Possidódio de Almeida Garrette Castelo de Branco Eça de Queiroz Gomez Victorino! Ande cá à sua professorinha que tem caquinha no apêndice respiratório! Iiiiisso!! Agora vá pó seu lugar ótra vez!

Anónimo disse...

é igualmente preconceituoso, o texto, sorry...

barroca disse...

a tipa já levava uma esfregona pelas beiças acima, principalmente se empunhada pela empregada de limpeza lá de casa, olarés!

poetic justice...

Anónimo disse...

Vocês não se desgracem. Estes posts são dos bloggers que a Pipi gosta. Não me parece que sejam para gozar.
Falo por mim, a minha realidade não é a que ela descreve. Graças a Deus.

Gala Potente disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sofia disse...

Pois, já me disseram que a ideia estava na ironia.
Peço desculpa, mas como nunca tinha lido nada da blogger, não me pareceu irónico.
Mas ainda bem que o é. Assim já acho que é um grande texto, de facto.

Alexandra disse...

Brilhante.

barroca disse...

duh for me then; a empregada que lhe peça desculpa pela esfregona nos beiços, faz fabôri! :P

Madalena disse...

Bem, realmente é incrivel a dificuldade que as pessoas têm em entender um texto escrito. A minha alma tá parva...

AJ disse...

Percebo a ironia, o sarcasmo e a tentativa de satirizar atitudes e comportamentos do perfil do português que venera a ostentação e o novo-riquismo. Não consigo compreender como uma pessoa geralmente bem documentada e, a meu ver, relativamente culta como a autora do blog em questão, tem um conceito tão limitador do "cheque ensino". Cara Ana de Amsterdam, conheço de perto a realidade deste benefício e queria só deixar uma ideia - na expectativa de, quiçá, lhe dar a conhecer uma nova realidade: há quem tenha acesso a este tipo de benefícios por parte da entidade patronal e que os utilize para o pagamento de despesas de educação em instituições públicas de ensino, em IPSS e colégios financiados pelo Estado Português. É, sobretudo, uma forma de ajudar as famílias portuguesas a aumentar o rendimento familiar disponível, perfeitamente enquadrado na lei e tax free para empresas e colaboradores beneficiários.

Parece-me despropositado comparar um princípio nobre e socialmente responsável como o da atribuição de apoios sociais à primeira infância com os princípios amorais de uma classe social que vê na educação privada a única forma de se distanciar da realidade em que vivemos.

apresento isto disse...

Pérolas a porcos, Pipi...

Fuschia disse...

Eu sei que andam todos zangados com a crise, mas acho que era preciso terem aulas de ironia. Além de não perceberem o texto, também ainda não perceberam a Ana.

Sofia disse...

É um bocadinho difícil perceber a ironia se nunca se leu um texto da pessoa em questão. Não tem nada a ver com isso, Fuschia.
Se tivesse sido alguma blogger que costumo ler, com certeza que não tinha ficado a pensar que era a sério.
E pessoas a dizer aquilo sem ser em tom irónico é que não faltam, por isso, é normal que nos tenhamos enganado em respeito ao carácter de quem o escreveu. Já pedi desculpa, mas se for preciso volto a pedir.

Quanto ao resto, já não é "comigo".

Fuschia disse...

:) sem problema. Só queria dizer que as pessoas levaram o assunto muito a sério ;)

Anónimo disse...

eu tb nao percebi como ironia aliás nunca tinha lido nada no blogue em questão por isso à primeira leitura nao me apercebi que era irónico quiçá por haver muitos portugueses muitas mamãs que pensam assim e lembro-me de uma reportagem na TVI sobre a crise que uma mãe dizia que: " era impensável retirar os meninos de um colégio particular onde pagava 1000 euros por mês e pô-los no público", daí que li a julgar por esta reportagem.

anónimo das 18.57

Anónimo disse...

Sinceramente, não sei mesmo se será irónico. Não há nada no texto que o indicie. Eu leio e está espelhado o modo de pensar de uma boa fatia de pais de meninos em colégios caros. Os programas nesses colégios são iguais aos do público, os professores são os mesmos. Resta a segregação social. Não há ironia nenhuma nisso. É uma (triste) realidade que só não reconhece quem vive no país das maravilhas...

Xuxi disse...

its just there and people just dont get it do they? malta perderam muitas aulinhas de bom portugues e interpretacao de textos de facto...